Clarisa Rodríguez Pérez (1900-1965): enlace na comarca de Valdeorras

Guerrilheiras sem rosto e sem nome, duplamente silenciadas por luitarem contra o franquismo e por serem mulheres. Esta é a história de Clarisa.

 

No encabeçado, um retrato de Clarisa Rodríguez. Fonte: [1]

A guerrilha antifranquista está cheia de nomes anónimos. Muitas pessoas foram assassinadas nos anos mais duros do combate, sem ninguém para lembrar a sua história. Outras marcharam ao exílio e desapareceram para sempre, e as que ficaram nom podiam falar por medo a represálias para elas e as suas famílias. Desta forma, na história das guerrilheiras aparecem figuras das quais apenas sabemos algo mais que o nome ou o apelido, e certamente haverá centos de combatentes e enlaces dos quais nunca saberemos nada.

Com toda probabilidade, este teria sido o caso de Clarisa Rodríguez Pérez, umha mulher totalmente anónima na literatura sobre a guerrilha antifranquista na Galiza. O seu nome foi resgatado pola investigadora Aurora Marco através das suas conversas com Xoán Xosé Rodríguez Rodríguez, filho de Clarisa e único informante sobre esta história. Entre junho de 2008 e agosto de 2009, Marco recompilou todos os dados que puido e dedicou-lhe um capítulo completo no seu livro Mulleres na guerrilla antifranquista galega (Laiovento, 2011). Neste artigo do Ferrado recuperamos a biografia de Clarisa e damos luz sobre um episódio que, por fortuna, nom ficou esquecido [1].

Clarisa Rodríguez Pérez nasceu em janeiro de 1900 no Meiral, lugar da paróquia de Santa Marinha do Monte (Barco de Valdeorras). Situada no extremo sudoeste do concelho, esta pequena localidade está praticamente desabitada no presente (segundo os dados do INE 2022, só mora um home), mas foi o lar de Clarisa durante praticamente toda a sua vida. O pai morreu quando ela tinha 5 anos e a nai, Teresa Pérez, apenas aos 12 anos. Morou algum tempo com os tios mas as condiçons económicas na casa eram mui precárias e deveu marchar ao Barco para servir como criada.

Com 17 anos voltou à sua paróquia natal e casou com Nicolás Rodríguez, emigrante retornado de Cuba e vizinho de Fervença, a única outra aldeia do Monte ademais do Meiral e a própria Santa Marinha. Nesta época também conseguiu um meio de subsistência ao recuperar o velho muinho de Meiral que herdara do pai; nel trabalhou até os seus últimos dias.

Clarisa e Nicolás viveram juntos durante 10 anos e tiveram umha filha, Carmen Rodríguez Rodríguez; mas Nicolás faleceu no ano 1927. Nalgum tempo posterior, Clarisa começou umha segunda relaçom amorosa com Amadeo Rodríguez, com quem morou vários anos mas sem estar formalmente casados. Amadeo foi o pai do seu segundo filho, Xoán Xosé (n. 1944), quem é a fonte primária deste relato.

Xoán Xosé nom conheceu a forma exata na que a nai ingressou na guerrilha, mas si que sabia que a sua família materna era ideologicamente de esquerdas e no ano 1936 votou no Frente Popular. O único exemplo concreto que logrou precisar foi o de José, primo de Clarisa e residente na paróquia vizinha de Sam Clemente de Cesures. O home andou fugido trás o intento de golpe de Estado e conheceu que a Guarda Civil ameaçava a família com a morte se nom revelavam a sua morada; ante isto, José disparou-se diante da sua casa.

Seja como for, Clarisa entrou em contacto com a Federaçom de Guerrilhas Leom-Galiza (FGLG), a primeira organizaçom da guerrilha antifranquista do Estado espanhol. A FGLG funcionou no período 1942-1947, ainda que os primeiros fugidos começaram a resistência no próprio verao de 1936 e os últimos combatentes caíram entre 1949 e 1951. A FGLG toma o seu nome do plano principal de operaçons: o leste das províncias de Ourense e Lugo e mais o oeste de Leom. Porém, devemos destacar que também existiu atividade na comarca de Seabra e a FGLG operou mesmo nalgumhas localidades de Portugal como pontos de compra de material ou de refúgio.

Sabemos que Clarisa colaborou como enlace da guerrilha durante a década de 1940. O seu papel principal era dar acolhida aos guerrilheiros, nomeadamente no seu muinho. Este refúgio foi vital para a FGLG porque se encontraba apartado da aldeia e rodeado por vegetaçom frondosa. Ademais, existia um caminho na beira do rio que constituía umha via de escape no caso de umha emergência. Ademais do muinho, Clarisa também refugiou membros da guerrilha na sua própria morada quando era preciso.

Por causa desta atividade, Clarisa arriscou a sua vida e entrou em prisom duas vezes. A primeira delas foi em 1941, quando a Guarda Civil estreitou o cerco sobre ela. Umha manhá, foi procurar água ao regato e voltou ao Meiral sem reparar em que a sua casa estaba rodeada de militares apontando as suas armas nela. Justo no momento em que iam disparar, alguém deles mandou parar e pediu piedade para a mulher porque era surda. Nom sabemos quem era esse home e por que decidiu mentir sobre isso, mas certamente salvou a vida de Clarisa.

Deste modo, Clarisa evitou a morte mas foi arrestada. Foi condenada por “auxílio à rebeliom” e ingressou no cárcere de Ourense, onde estivo aproximadamente um ano. Deveu sair em 1942 mas foi detida umha segunda vez no ano 1944 e enviada ao penal de Cela Nova. Desta volta, ganhou anticipadamente a liberdade em junho, devido ao seu estado de gravidez avançada. Durante as duas estadias, coincidiu com outras mulheres da guerrilha, incluída Carmen Jérez, enlace da FGLG e vizinha de Fervença.

O companheiro de Clarisa, Amadeo, também era de esquerdas e participou na guerrilha; de feito, Xoán Xosé comentou que a imensa maioria de residentes de Fervença davam algum tipo de apoio à FGLG. Nom conhecemos grandes detalhes da sua atividade mas sabemos que foi arrestado múltiples vezes; nalgumha dessas ocasions estivo a ponto de ser executado. Só salvou a vida porque tinha familiares trabalhando no paço da Condesa de Arnado (casa nobre da comarca de Valdeorras) e conseguiram interceder no seu favor.

Durante o segundo arresto de Clarisa em 1944, Amadeo foi informado de que também andavam trás el e de que o risco de morte era já iminente. Deveu abandonar a sua terra natal e a emigraçom levou-no a Barcelona. Nom voltou a ver a sua companheira e só conheceu o filho na década de 1960, com a ajuda de amizades comuns.

Clarisa voltou ao Meiral em junho de 1944 e ao pouco tempo nasceu Xoán Xesús. Nos seguinte anos, cuidou do seu muinho, os seus cultivos e mais o pequeno, mas seguiu sendo vigiada e intimidada pola Guarda Civil. Segundo relata Xoán Xesús, a nai pouco lhe relatou durante esses anos, talvez para o proteger; mas estava totalmente convencido de que, apesar de todo, ela seguiu colaborando com a guerrilha.

Clarisa morreu em janeiro de 1965 e pouco depois Xoán Xesús trasladou-se a Viloira, outra paróquia do Barco. A aldeia do Meiral, as suas casas e o velho muinho foram ficando abandonadas. Pouco mais sabemos sobre a biografia de Clarisa, ignoramos que outras atividades desenvolveu na guerrilha ou quantas vidas salvou graças ao seu muinho. Desconhecemos se sofreu torturas ou foi agredida sexualmente nas suas estadias no cárcere; algo que desafortunadamente podemos confirmar no caso da sua companheira Carmen Jérez, quem foi brutalmente assassinada na primavera de 1947.

Por pequeno que seja o relato, o nome de Clarisa nunca vai ficar no esquecimento; sabemos que existiu e resistiu, como tantos outros milheiros de mulheres, na chaira ou no monte, com ou sem nome.

Obrigado ao povo de Valdeorras.

 

BIBLIOGRAFIA

[1] Marco, Aurora (2011). Mulleres na guerrilla antifranquista galega, p. 143-146. Laiovento.

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