Nesta nova entrega das Estórias, visitamos a costa arouçana para discutir o modelo atual do turismo na Galiza. Repasaremos o impacto social, económico e ambiental que tem esta atividade no mundo e mais especificamente no nosso país. Será que a “turismofobia” existe de verdade?
No encabeçado, pintada numha rua de Vila Garcia de Arouça. Fonte: [12].
Para esta nova estória quereria realizar umha pequena viagem desde a capital da Galiza à sua ria de maior tamanho. Atualmente o topónimo oficial desta ria é Arousa, nome que também designa a ilha e mais dous concelhos da regiom. A etimologia desta palavra semelha pré-romana e existem diversas teorias sobre o seu significado verdadeiro. O professor Bascuas propujo em [1] o protoindo-europeu *ArH-k-ya a partir da raíz *er-, “mover-se a”. Esta origem estaria ligada a, polo menos, outros dous topónimos do domínio galego-português: Arouca (município do Distrito de Aveiro) e Arouce (pequeno rio que nasce na Serra de Lousã, perto de Coimbra).
Mais recentemente, Montero Santalha e Martins Esteves investigárom em [2] e [3] o possível étimo céltico *Arautia ou *Arautsia, literalmente “ante a orelha”. Esta hipótese teria mais sentido do ponto de vista geográfico, pois todos os topónimos com este apelido estám precisamente situados a leste da península da Barbança, o que seria umha orelha metafórica.
Seja como for, o que nom tem dúvida algumha é que o nome original derivou na Alta Idade Média em Arauza, como mostram documentos dos anos 899 e 911 [1]. Posteriormente, o nome evoluiu para Arouza, Arouça e outras variaçons presentes em múltiplos textos medievais. Deste modo, a grafia com -s- nom é etimológica e deve-se com toda probabilidade a umha interpretaçom errada do sesseio próprio da zona. Este processo seria, ademais, paralelo ao de substituiçom pola forma deturpada *Arosa. Assim, M. Santalha e M. Esteves recomendam Arouça como topónimo completamente regenerado (em grafia ILG-RAG seria Arouza), sem prejuízo da pronúncia com /s/.
Feita esta introduçom histórica, voltemos à viagem imaginária e vaiamos à localidade arouçana de Vila Garcia. O tema central desta estória encontra-se na Avenida da Marinha e, mais que um gravado, é na verdade umha pintada sobre a parede dum local abandonado. O desenho está assinado pola Assembleia da Mocidade Independentista (AMI) e lê-se textualmente: “O turismo destrói Galiza”. Nom encontro a data exata de realizaçom, mas deve ser anterior a 2014, ano de dissoluçom da organizaçom juvenil. A mensagem resultou polémica e levou críticas de todo tipo; de feito, atualmente a imagem nom só aparece na página de AMI da Galipédia, senom também no artigo dedicado à Turismofobia.
Em primeiro lugar, quereria expressar o meu rejeitamento polo termo turismofóbia, um neologismo da década passada que só alcançou difusom por volta do ano 2017. Considero que se trata dumha palavra pejorativa que tenta estigmatizar as críticas legítimas ao turismo excessivo. Este problema está reconhecido formalmente pola Organizaçom Mundial do Turismo (UNWTO) com o nome de overtourism e refere-se ao impacto negativo da massificaçom a nível global [4].
Os efeitos negativos do turismo estám bem estudados e abrangem umha multitude de domínios, mas principalmente preocupam os planos económico, sociocultural e ambiental. Os benefícios económicos som habitualmente utilizados para defender o sistema atual; por exemplo, cita-se que o turismo contribui num 10% ao PIB mundial e que gera sobre o 10% de postos de trabalho, contando setores diretos e indiretos. Porém, nom é menos certo que existe umha tendência à concentraçom dos benefícios por parte de empresas multinacionais em prejuízo dos negócios locais. Noutras palavras, as comunidades locais costumam perder umha grande parte dos ingressos criados polo turismo, um problema conhecido como leakage effect. Quanto ao emprego, tampouco se pode negar que a maior parte de trabalhos turísticos som precários e temporais, polo que em muitos casos nom gera a melhora socioeconómica desejada, senom justamente todo o contrário [5].
Passemos agora ao segundo plano, o sociocultural. Um exemplo deste tipo é a aculturaçom, isto é, a assimilaçom da cultura dominante por parte das comunidades locais. Este feito, unido à comercializaçom do património, contribui à perda de riqueza cultural. Por suposto, o turismo contribui notavelmente à gentrificaçom das áreas urbanas: com o incremento do nível de vida e os preços, tem lugar a expulsom da povoaçom local e a substituiçom das suas antigas residéncias por negócios ou vivendas com fins comerciais. Outros efeitos sociais negativos som o aumento das taxas de crime, consumo de drogas, jogos de apostas e prostituiçom [6]. Neste sentido, haveria que incluir o prejuízo na saúde, especialmente no contágio de doenças: exemplos bem estudados som a COVID-19 [7] e as infeçons de transmissom sexual, preocupantes naqueles países mais pobres e com um sistema de saúde pouco desenvolvido [8].
Finalmente, a destruiçom mais literal acontece no plano ambiental, no qual o turismo tem um papel unicamente negativo. Estima-se que só o transporte aéreo gera um 5% das emissons mundiais de gases de efeito estufa, enquanto um cálculo global de todas as contribuiçons do turismo sobe a cifra até o 8% [9]. Além da contaminaçom por mobilidade, a massificaçom de destinos naturais (zonas costeiras, ilhas, bosques, selvas…) prejudica gravemente o entorno por culpa do excesso de resíduos, a alteraçom do médio e o impacto na ecologia local.
Semelha, pois, que o modelo atual de turismo gera um impacto neto negativo no nosso planeta. Significa isto que as atividades turísticas som inerentemente más para a nossa sociedade? Eu opino que nom; penso que é possível construir um modelo coordenado de turismo sustentável que equilibre e idealmente supere as contradiçons da situaçom atual. De feito, este é um dos objetivos de desenvolvimento prioritário para a UNWTO e, em geral, para a ONU. No entanto, muitos analistas criticam as propostas presentes (ecoturismo, turismo verde, turismo responsável…) como pouco eficazes. Mais ainda, em muitos casos estes modelos som umha resposta capitalista ao esgotamento do turismo convencional e o seu único objetivo é a obtençom de benefícios através dumha marca comercial “ecológica” que nom soluciona os problemas derivados [10].
Qual é a relaçom destes feitos com o nosso país? Penso que o panorama turístico atual está afetando negativamente o conjunto da nossa sociedade e do nosso entorno, e ademais defendo que esta é a visom geral da cidadania galega. Como mostra significativa, quereria revisar um estudo de opiniom sobre o turismo publicado pola Unión de Consumidores de Galicia (UCGAL) em 2018 [11]. Existe um consenso amplo (84%) de que muitos dos nossos destinos estám massificados polo turismo: exemplos citados explicitamente som as Rias Baixas, as ilhas Sies e Ons, o centro histórico de Santiago ou a Praia de Augas Santas (Praia das Catedrais). O único efeito positivo no que há maioria de opinions das pessoas usuárias é o aumento de emprego (73%), entanto salientam-se negativamente a saturaçom dos espaços públicos (72%) e o dano ao médio natural (60%). Também existe um consenso por parte de pessoas usuárias e comerciantes de que os benefícios percebidos do turismo nom compensam os danos sociais e ambientais.
Para concluir, o fundo da pintada arouçana é essencialmente certo: o modelo atual do turismo está lentamente destruindo a Galiza, o seu património cultural e a sua natureza. Como soluçons imediatas e urgentes, destaco as mais importantes que se extraem do citado estudo da UCGAL: maior planificaçom por parte dos organismos públicos e agentes provedores de serviços, implantaçom dumha taxa turística e, especialmente, participaçom prioritária da povoaçom local na toma de decisons em matéria turística.
REFERÊNCIAS:
[1] Bascuas, E. (2002). Estudios de hidronimia paleoeuropea gallega, p. 37. Santiago de Compostela: Verba – Anuario Galego de Filoloxía. Anexos (Universidade de Santiago de Compostela).
[2] Martins Esteves, H. (2008). As tribos calaicas. Proto-história da Galiza, á luz dos dados lingüísticos, p. 66. Sant Cugat del Vallès, Barcelona: Edições da Galiza.
[3] Martins Esteves, H. (2015). Etimologias Obscuras ou Esconsas. Apelativos, Antropónimos e Topónimos, pp. 9-10. Padrom: Anexo 2 do Boletim da Academia Galega da Língua Portuguesa.
[4] Koens, K., Postma, A., Papp, B. e Yeoman, I. (2018). “‘Overtourism’? – Understanding and Managing Urban Tourism Growth beyond Perceptions”. World Tourism Organization.
[5] Rollins, R., Dearden, P. E Fennell, D. (2016). “Tourism, ecotourism and protected areas”. In P. Dearden, R. Rollins and M. Needham (eds.), Parks and protected areas in Canada: Planning and management (4th ed) (pp. 391 – 425). Toronto: Oxford University Press.
[6] Shepherd, R. (2002). “Commodification, culture and tourism”. Tourist Studies. 2 (2): 183–201.
[7] Sigala, M. (2020). “Tourism and COVID-19: Impacts and implications for advancing and resetting industry and research”. Journal of Business Research. 117: 312–321.
[8] Cabada, M., Maldonado, F.,Bauer, I.; Verdonck, K., Seas, C. e Gotuzzo, E. (2007). “Sexual Behavior, Knowledge of STI Prevention, and Prevalence of Serum Markers for STI Among Tour Guides in Cuzco/Peru”. Journal of Travel Medicine. 14 (3): 151–157
[9] Lenzen, M.; Sun, Y.-Y.; Faturay, F.; Ting, Y.-P.; Geschke, A.; Malik, A. (2018). “The carbon footprint of global tourism”. Nature Climate Change. Springer Nature Limited. 8 (6): 522–528.
[10] Kamauro, O. (1996). Ecotourism: Suicide or Development? Voices from Africa #6: Sustainable Development, UN Non-Governmental Liaison Service. United Nations News Service.
[11] Unión de Consumidores de Galicia (2018). Estudo de opinión sobre o impacto do turismo en Galicia. Disponível online em www.consumidores.gal
[12] https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vilagarcia_06-01r.jpg (Creative Commons)