A mais grande das poetas

O documentário A poeta analfabeta (2020), escrito e dirigido por Sonia Méndez, afonda na vida pública e na obra dumha figura singular da literatura galega: Luz Fandiño. Nesta resenha comentamos as chaves do filme e salientamos a trajetória de Fandiño como escritora comprometida, inspiradora e sempre guiada polo amor à terra.

 

No encabeçado, póster promocional do documentário. Fonte: [1].

O passado 4 de novembro de 2021 tivem a grandíssima sorte de desfrutar dumha projeçom especial do documentário A poeta analfabeta na sala NUMAX (Santiago de Compostela). O filme nom é novo, já fora estreado no festival Cineuropa 2020; mas foi verdadeiramente umha fortuna pola assistência de duas mulheres efetivamente notáveis: Sonia Méndez, diretora e guionista da obra, e mais Luz Fandiño, a protagonista dela.

Nascida em 1931 no seio de umha família pobre de Compostela, Luz Fandiño viu-se forçada a emigrar com apenas 21 anos, primeiro a Buenos Aires e mais tarde a Paris. Durante mais de duas décadas deveu suportar trabalhos precários e sobreviver ao que ela mesma chama “duas fames”: a fame literal, aquela que sofre o estômago; e a fame da mente, pois nunca tive acesso a nengumha classe de educaçom. Este feito inspirou um poema que escreveu a própria autora e que precisamente dá nome a este documentário.

Na capital argentina, essa segunda fame levou-na a colaborar no Centro Galego com o objetivo de formar-se autonomamente. Na sua biblioteca conheceu as obras de Rosalía de Castro, Ramón Cabanillas e muitos outros. Nesses momentos, algo mudou no seu interior de jeito irremediável. Desenvolveu um amor profundo pola terra e pola língua galega. Começou a compor os seus primeiros versos e a adquirir livros quando o pouco dinheiro o permitia. E no seu coraçom, um único sonho: voltar à Galiza.

Luz Fandiño, numha entrevista para a TVG no ano 2021. Fonte: [2].

Nestes anos escuros, no interior de Fandiño também medrou outro dos compromissos irrenunciáveis, o político. Da sua nai herdou as bases do comunismo e do feminismo, as quais ela acrescentou paulatinamente com o nacionalismo galego, o anti-imperialismo, o ecologismo… É destacável a sua participaçom nos eventos de Maio de 1968 quando se encontrava emigrada na capital do Estado francês.

No ano 1979, a poeta vê cumprido o seu sonho e retorna definitivamente à sua cidade natal. Entra em contacto com o mundo cultural e político galego desse tempo, iniciando a sua militância ativa na AN-PG e na UPG. O 28 de junho de 1984 encontra-se na primeira linha das manifestaçons no cemitério de Bonaval ao grito de: “Castelao nom é vosso!”. Mais tarde viriam as marchas anuais de cada Dia da Pátria, as primeiras publicaçons editoriais, os recitais de poesia na Caldeiraria… O demais é história viva de Compostela.

Quanto ao documentário, Sonia Méndez gravou a obra entre 2019 e 2020, quando a escritora contava com 88 anos. Os 71 minutos do filme salientam a vida pública (literária e política) de Luz Fandiño, omitindo deliberadamente a esfera privada. Se bem o ritmo narrativo nom é sempre regular, isto compensa-se com a naturalidade das declaraçons da poeta e a carga emotiva destacada dalgumhas partes da obra. Por suposto, a presença física da protagonista num breve colóquio ao final da projeçom também foi comovedora. A pesar da idade, a poeta mantém o espírito lírico, um vocabulário cuidado e escolhido, um sentido fino da ironia e, enfim, umha grande vitalidade para os seus 90 anos.

Nom quereria cerrar este artigo sem mencionar umha das partes do documentário que, ao meu juízo, guarda mais peso sentimental: a homenagem coletiva a Luz Fandiño por parte de novas escritoras e músicas, celebrada em 2019 no Airas Nunes Café. Maravilhou-me encontrar artistas de sona no mundo contemporáneo galego, como por exemplo a lucense Laura LaMontagne. Fica assi um legado vivo de poesia, música e compromisso político e lingüístico em constante mudança e adaptaçom aos tempos modernos. Venham mais luzes para as nossas letras!

P.S.: no momento de revisar e publicar o artigo, conhecimos que A poeta analfabeta fora nomeada nos XX Prémios Mestre Mateo como finalista ao melhor documentário. Quereriamos dar os parabéns à autora e desejar-lhe toda a sorte para a vindeira cerimónia!

 

REFERÊNCIAS

[1] https://www.instagram.com/luzfandinho/

[2] https://www.crtvg.es/informativos/luz-fandino-o-que-digo-e-o-que-penso-venme-de-dentro-non-son-palabras-bonitas-pero-son-as-minas-verdades-4859797

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