Primeiro de umha coleçom de artigos, onde a través da experiência pessoal e familiar, fai-se um percurso pola história da língua e como esta chegou até o autor. É um recordo das devanceiras, daquelas que mantivérom vivo um dos nossos maiores tesouros, a língua.

 

Esta é umha série de artigos, nos quais pretendo escrever sob o neofalantismo, da minha experiência com a língua, e do que implica no nosso país ser neofalante, ajustando-me ao contexto mais própio, do que supom ser neofalante numha comarca e numha cidade coma Ponte-Vedra, das mais hostís do país para um galegofalante.

Neste primeiro artigo, farei umha viagem ao passado, o mais atrás que poda remontar-me, para falar, e deixar por escrito histórias, contos das pessoas que figérom que eu um dia pudera chegar a ser neofalante, que tivera a oportunidade de recuperar essa mesma língua que elas se encarregárom de manter viva. Assim mesmo, falarei também do seu contexto, de como a língua foi evoluindo com elas, e como chegamos ao devalo da mesma, o qual a minha geraçom por desgraça experimenta.

Coma sempre, levo isto ao contexto mais achegado; vou falar da minha família paterna, a parte galega, natural da freguesia e em tempos, concelho de Mourente. Ao longo destes anos, em concreto estes dous últimos, ando fazendo umha recolhida na família de tudo o relacionado com o galego, com a história da freguesia e da própria memória familiar. Até o dia d’hoje a última informaçom da que disponho é a dos meus bisavós. É por eiquí onde quero começar este relato, pola gênese, ou quanto menos, o mais próximo a ela.

Os meus bisavós eram de finais do século XIX, do 1885 e do 1892. Os dados apanhados no livro de Xerais “A lingua galega na cidade no século XX”, achegam a realidade sociolinguística na qual se criárom os meus bisavós e na qual figérom boa parte da sua vida. Neste livro, os dados som divididos por tramos d’idade, mais em concreto polos anos de nascimento, e também se fai divissom entre os habitantes da própria cidade em sim e das freguesias rurais dos concelhos em questom.

Ponte Vedra e Vigo som, das 7 grandes, as que mais povoaçom juntam fora da cidade, é dizer, as freguesias destes concelhos tenhem um maior peso demográfico que nas 5 restantes, feito importante e a ter em conta quando anotemos vários dos dados que se recolhem no livro. A data de 2022, o número de ponte-vedreses que vivem nas 15 freguesias rurais do concelho, som quase 20.000, umha porcentagem do 23,6%; estes dados som maiores quanto mais nos remontemos no tempo.

Os dados aos quais podo fazer mençom, som os referentes ao tramo d’idade que se recolhe no livro, dos nascidos antes do 1926. No referente aos dados da língua inicial em Ponte Vedra,[1] fai-se distinçom entre a própria cidade e as freguesias do concelho. No caso da própria cidade, os dados deixam um 66,7% de castelhanofalantes iniciais, un 6,7% de bilingues, e um 26,7% de galegofalantes.

Pola contra, nas freguesias os dados eram abrumadores, cum 2,9% de castelhanofalantes, um 2,9% de bilingues e um 94,3% de galegofalantes.

O total do concelho deixava ums dados de 22% de castelhanofalantes, um 4% de bilingues e um 74% de galegofalantes iniciais, já que a povoaçom das freguesias do concelho era muito mais relevante na suma geral do que hoje.

Pois bom, com estes dados sob a mesa, pode-se dizer que a vida dos meus bisavós era quase íntegra em galego, como assim o afirma a minha família. A transmissom da língua, até onde eu pudem chegar, nom se rachou com eles, já que educarom às suas crianças em galego, nom falavam castelhano com elas.

Tanto o meu coma a minha bisavó sabiam ler e escrever, mais de jeito muito rudimentar, e na forma oral tinham bastantes dificuldades com o castelhano. A nossa alcunha familiar era Os Pataratas, por desgraça já ninguém se lembra de onde vêm. A alcunha vinha da parte do bisavó Manuel.

A minha bisavoa Concha foi possivelmente o fator mais galeguizante, já que o meu bisavó Manuel morreu relativamente novo (1947) e ela morreu com quase 90, no ano 1982. É também a pessoa da qual tenho mais anedotas apontadas. Tinha umhas lentes do estilo Castelao (de seu pai) com as que lia o jornal, lavava a roupa dos senhoritos de Ponte Vedra, cosia, tinha vacas, ovelhas, cabras, porcos e galinhas, e também carro prá vaca. Na sua casa, na Seca, havia canastro de pedra, de feito um da família é o que está hoje em dia em Campo Longo, onde Sanidade, o qual foi vendido por 1000 pesetas.

A minha bisavoa tinha umha veigha bastante grande, a qual chamava a veigha da maré, que se estendía dende a parte baixa de Mourente, polo O Outeiro e Os Campos, à altura da atual parada de comboio Ponte Vedra-Universidade, até o que hoje é a Ponte dos Tirantes. Era umha veigha de quase 40 cuncas, mui grande, que foi malvenda à Tafisa baixo ameaça de expropriaçom. Mui perto da veigha estava um muro, lugar onde fusilarom após o golpe d’estado do 1936. Assim mesmo, os meus antepassados construíram um dique, um peirau que separava o río do terreio, e dende o qual se tiravam para banhar-se sobre tudo as crianças. Quando o río vinha com enchente ou o mar estava em suba, a minha bisavoa dizia “A maré pequena já está cheia”. Também sacavam proveito do próprio Léres, apanhando estrume nele.

Tinham também outra, um pouco mais arriba da parada do comboio que inda se mantêm dentro da família, a da carvalheira, hoje umha ilha no meio dos eucaliptos. Era a veigha do Outeiro, de onde também sacavam folhas prá estrumare para os porcos. Nos anos da fome havia mui pouco pam e a bisavoa comentava “nom sabe mal, têm algho de bravura mais.” Os seus apelidos, Guzmán e Hermida, eram de Mourente, do Outeiro o primeiro, e da Seca o segundo.

A bisavoa tinha muitos giros linguísticos, hoje quase perdidos, e que só podo reproduzir polas histórias que dela me contam meu pai e minha avoa. Quando algo nom saia bem, ou como ela queria, sempre dizia que tinha umha “chispa neghra”, às vezes confundia aos netos e se liava com os nomes Mili, Lelo, raio…

O traço linguístico que eu recuperei dela foi o sesseio total, hoje muito tocado na comarca e no concelho de Ponte Vedra, e em real perigo ao longo da província . Para ela o que guardava os pés era o sapato, o que vinha dispois do quatro era o sinco. Outro traço que sim que herdarom dela minha avoa e meu pai, e que eu antes de ser neofalante já usava nas minhas incurssons no galego, era “muito”.

A continuaçom vou contar duas anedotas da bisavoa:

A primeira, viveu-na meu pai de primeira man. Meu pai era adolescente, a finais dos anos 70. Estava saíndo um anuncio publicitário dum desodorizante da época Tulipa Negro, e a minha bisavoa ante isto botou-se a rir e dixo em voz alta “Ai, inda nom che mirei eu um tulipa neghro”.

A segunda, nasce com as perguntas que lhe faziam à bisavoa meu pai e minhas tias, fazendo referência ao seu dedo. A bisavoa tinha como ela dizia um “dedo coto”, um dedo da man que nom podia estirar de tudo, e que lhe quedou de por vida.

A história vêm de que a minha bisavoa tinha mal o dedo, infetado, e acudiu ao médico que atendia à gente mais humilde, o doutor Pepe Crespo. Este já tinha ajudado a nascer a um irmám da bisavoa, Pepe, que vinha de cú; ela dizia do parto saleu neghro coma o carbom.
À hora de tratar o dedo, o doutor cortou-lhe um tendom, coutando-lhe parte da mobilidade para sempre.

Meu pai e minhas tias sempre andavam a rilhar-lhe à minha bisavoa, perguntando-lhe e tirando-lhe do dedo para trás, ao que a bisavoa respostava nada, “tira tira isso nom vai; foi Pepe Crespo entalhou-me o dedo”, e quando lhe perguntavam como passara ela dizia Pepe Crespo fixo assim: rás! E cortou o dedo. Contadas estas duas histórias da bisavoa Concha, passo agora a falar um pouco do meu bisavó Manuel.

Ele e a sua familia eram de Mourente, provavelmente do Paço, dos Tomé de Mourente. Dele nom tenho apenas anedotas ou histórias, já que a minha avoa o que lembra dele é que vivia para o trabalho.

Ele era canteiro, feito que já lhe vinha de família, e que também há na da bisavoa Concha. O meu bisavó Manuel mui seguramente intervava e jalruava no verbo, mais o caráiter hermético do verbo, unido a que o meu bisavó apenas nunca falava do seu trabalho, fai que a minha avoa nom mo puder confirmar.

Emigrou a Cuba, e quando voltou no 1920, começou a construir A Seca, a casa da família. Ele e Concha casarom alí, na Seca, em Fondevila. A casa chegou a ser umha escola, à qual chegou a assistir minha avoa nos anos da II República Espanhola. Ele e o seus irmáns figérom o edifício do Valle-Inclán e também o último edifício da Alameda, após o da Deputaçom.

A única anedota que recolhim dele foi de feito póstuma. Como o bisavó nunca contava nada do trabalho, após a sua morte muitas das obras que fijo ficaram sem pagar, sem saber a bisavoa quais. Com tudo, um dia apresentou-se um senhor de Mourente, quem lhe dixo à bisavoa “Senhora Concha, seu homem fixo-me umha obra, nom se enfade mais nom lho pudem paghare em vida dele, entom aghora traio-lhe o dinheiro”. O senhor deu-lhe à bisavoa 15.000 pesetas, umha quantidade mui grande daquelas.

 

Referéncia da imaxe: Fotografia tirada polo próprio autor do panteom familiar em Mourente, em homenagem às devanceiras.

 

REFÉRENCIAS:

[1] Rei-Doval, Gabriel, “A lingua galega na cidade no século XX. Unha aproximación sociolingüística”, Ed. Xerais, Vigo, 2007, p.402

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