Nem a sua obra tivo como objecto Galiza, nem a sua figura está relacionada com o nosso país. Apesar disso, a existência de um Pau Vila a propor novos traços sobre o mapa galego fai-se necessária.
Referência de imagem: © Institut Cartogràfic i Geològic de Catalunya.
Mas quem foi Pau Vila? Nascido no ano de 1881 em Sabadell, cidade da órbita metropolitana de Barcelona, viveu os seus primeiros anos vinculado à tecedura, atividade familiar de longa tradiçom. Nom foi até os 21 anos de idade que começou a se desenvolver como um pedagogo inusual no seu tempo, fugidio da teoria e amante da prática. Essa experiência adquirida na Pedagogia marcou a sua vida a partir dos trinta, quando Vila se destacou polo que hoje é reconhecido principalmente em Catalunha, Colômbia e Venezuela: a Geografia. Enquanto pedagogo, Pau Vila explicava a Geografia ao alunado arredando-o da simples memorizaçom de dados, tentando transmitir a importância de compreender os territórios além dos nomes dos rios e dos estados. Aproximava os seus pupilos à paisagem natural e à realidade social e humana dando exemplo, assi, de umha educaçom com letras maiúsculas num momento em que a Geografia estava a experimentar umha verdadeira revoluçom.
Enquanto geógrafo, Pau Vila era autodidata e bebia dos postulados do prestigioso círculo de profissionais alpinos de Grenoble —com Raoul Blanchard à cabeça— e do catedrático da Sorbona Paul Vidal de la Blache, pai de umha das geraçons de profissionais mais importantes na ciência da Geografia. Vidal de la Blache criou escola entre o final do século XIX e o início do XX e deu azo a umha nova corrente, a Geografia Regional, que se parava a analisar as diversas realidades territoriais da França. Fôrom Vidal e os seus discípulos os primeiros a distinguirem entre as régions, definidas como áreas de grande alcance e facilmente distinguíveis, e os pays, que vinham sendo regions de menor tamanho, chamadas de «comarcas» na nossa linguagem atual, nas quais eram identificados traços paisagísticos particulares e concretos desses territórios. Pau Vila levou esta maneira de analisar o território à Catalunha, mas nom era o único. Porém, a sua figura sobressai por ser ele, em 1926, o autor da primeira monografia comarcal catalá, com um título tam singelo quanto explícito: La Cerdanya. Era um compêndio de dados relativos a esta singular área natural pirenaica, repartida entre os estados espanhol e francês mas catalá por inteiro no sentimento. A obra é umha amostra exemplar da análise habitual em Vila, com umha série de dados gerais introdutórios para despois centrar-se em aspectos da geografia humana e pô-los em balança junto com fatores de índole natural. As aspiraçons de Pau Vila, como se pode deduzir, nom eram nada modestas: o seu desejo era estender este tipo de análises a outras zonas até cobrir inteiramente o território catalám, mesmo sendo consciente da dificuldade que supunha delimitar as comarcas tomando como base traços naturais ou históricos.
Vila nom se limitou a elaborar monografias e, entre 1928 e 1935, publicou o Resum de Geografia de Catalunya, um compêndio de nove volumes que apresentavam as bases para a criaçom de umha geografia científica catalá. Com todo, a contribuiçom de Pau Vila viveu a sua máxima expressom em 1931. Naquele ano, o pedagogo —já reconhecido como geógrafo de direito— plasmou sobre o mapa umha proposta de comarcas catalás, sob o abrigo da palestra de estudo da divisom territorial organizada pola Generalitat, palestra na qual Vila, por sinal, ocupava a vice-presidência. Nom era aquela de 1931 a primeira
exemplificaçom gráfica das bisbarras de Catalunha; Esteve Sunyol figera o próprio 34 anos antes. Mas a proposta de Vila diferenciou-se pola sua intençom de esculpir comarcas conjugando os feitos sociais com os fatores naturais e históricos que nas décadas prévias analisaram Sunyol e outros geógrafos. O passo do tempo demonstrou que a de Vila era umha contribuiçom valiosa, fundamental, que serviu como base para o lançamento oficial das comarcas, sob o para-águas da Generalitat, pouco tempo antes de a Guerra Civil espanhola explodir. Todavia, a aplicaçom definitiva das comarcas catalás tivo que aguardar ao remate da ditadura. E Vila viu-se obrigado a empreender o caminho do exílio para Colômbia e Venezuela, países em que continuou desenvolvendo a sua carreira como geógrafo de prestígio.
O esforço de Pau Vila, como o da escola francesa, tivo eco entre os profissionais galegos e influiu de maneira decisiva, em décadas posteriores, no trabalho de persoeiros que dedicárom umha boa parte do seu tempo a investigarem sobre a Geografia galega. Podemos falar de Antón Fraguas, de Francisco Río Barja… e de Ramón Otero Pedrayo, o geógrafo mais prolífico da nossa terra e pai da escola oteriana. Foi Otero o mais grande estudioso sobre as nossas comarcas ou «países» —retomando o termo original da Geografia Regional francesa— e, graças a ele, fôrom nomeadas e analisadas moitas realidades espaciais poucas vezes exploradas até entom; realidades às quais, como em Catalunha, é difícil determinar limites pechados —sem que isso signifique que essas realidades nom existam—. Com todo, nem Otero nem nengum dos outros intelectuais mentados alcançou o nível de profundidade que Vila alcançou na sua análise geográfica de Catalunha. Nengum geógrafo galego, até o remate da ditadura franquista, publicou umha proposta integral de comarcas, com limites exatos e que atingisse a totalidade do nosso vasto e rico território. Fraguas, Río Barja e Otero estivérom perto, mas nas suas análises sempre achamos algumhas zonas da Galiza sem um nomeamento comarcal explícito. Aliás, nalguns momentos, a delimitaçom de algumhas realidades comarcais era difusa, sem limites concretos ou com limites que, segundo o relato ou o mapa consultado, eram uns ou outros —prova inequívoca da enorme dificuldade de comarcalizar—.
Em 1967, Rosario Miralbés relevou a Otero Pedrayo na cátedra de Geografia da USC. Com esta mudança, presenciamos tamém o desenvolvimento de umha nova linha de estudo das nossas bisbarras. Estas já nom eram mormente entidades territoriais emergidas após pôr em relaçom o meio físico e o humano —como fazia Otero—, mas si espaços que giravam ao redor de umha cidade ou vila principal que funcionava como motor da economia terciária. Eram, portanto, áreas medíveis, quantificáveis e com uns limites concretos que, isso si, tendiam a respeitar as fronteiras municipais e provinciais vigentes. Esta visom primou num momento histórico importante —o da restauraçom e o assentamento da autonomia galega— no qual houvo um interesse maior polas nossas comarcas. A nível político, isto traduziu-se na aprovaçom de um mapa oficial elaborado polo professor da USC Andrés Precedo Ledo e a sua equipa, no qual esse critério funcional instaurado por Miralbés tivo um grande peso à hora de desenhar as fronteiras comarcais.
A aprovaçom das bisbarras galegas produziu-se no ano de 1997, mais de seis décadas despois (seis!) daquele mapa que Vila desenhara para Catalunha. Longe disso, alá as comarcas de Vila, aperfeiçoadas polo contributo de diversos académicos e pola vontade popular, permanecem válidas. O que figemos mal? Como bem é sabido, a ausência de compromisso da Administraçom pública galega e a falta de acordo no desenho final de moitas bisbarras levárom o mapa oficial das comarcas da Galiza de 1997 a outro mapa, o da irrelevância na história. E o pior do assunto é que, desde o fracasso de 1997, o trabalho para desenvolver umha Galiza de comarcas é totalmente fraco e é mormente oferecido a nós como um produto edulcorado sem mais pretensom que a de servir como fórmula de fusom de concelhos, como pudemos ver nos últimos tempos.
Nom nos enganamos ao assegurar que necessitamos um Pau Vila (ou mais de um) que peneire todas as investigaçons realizadas até hoje acerca dos pays que sem dúvida povoam a Geografia galega. Precisamos de um Pau Vila (ou mais de um, repetimos) que dê um novo impulso à maneira de analisar a geografia galega, de um ponto de vista que valorize a natureza e a atividade humana, que utilize critérios técnicos modernos e adaptados aos nossos tempos, e que assobarde os marcos provinciais e municipais para fixar-se em maior medida nas históricas parróquias e nas contemporâneas áreas metropolitanas. Em definitiva, compre que emirjam moitos Paus Vila dispostos a fazerem pedagogia, longe da memorizaçom de dados baldeira de sentido, e a divulgarem a enorme riqueza do território onde nascemos.